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Crítica desobstruída

As questões do mundo. As infindáveis perguntas sobre os sentidos, os rumos, as circunstâncias de morrer ou de viver. Uma procura incansável pelo absolutismo de estar, experimentar, seguir caminhos e contornar obstáculos. A fuga da solidão, a busca dos prazeres fáceis - somos uma sociedade do oculto: de nós mesmos. Das terapias alternativas, da dissolução da ciência, da quebra da medicina tradicional e das Igrejas monoteístas. Somos um rumo sem rumo. Um caminho com tantos caminhos. 
A re-fundação do ser humano passa pelas crises económicas, pelos papas que renunciam, pela busca incansável do conforto para o ser que não somos, mas queremos ser, sem nunca deixar de querer ser aquilo que é: uma espécie de um reencontro com a energia de um nascimento. É o encontro no imediato, no tangível, no âmbito do concreto. É uma abstracção da caridade, do fundamento dos outros, onde sobra a regra do egoísmo para se sofrer menos. 
Todos se procuram a si próprios, depois de tanto tempo a acharem-se donos de si. E isso é um erro: essa insatisfação do que se tem e o sofrimento pelo sonho e a expectativa do que se pode vir a ter. É a não aceitação da realidade. As medicinas, as igrejas, os deuses, as filosofias, as economias e as tradições de sempre estão a refundir-se, no cálculo do novo espaço em que nos enfiamos. É um aquário gigante em constante ausência de oxigénio: morrem peixes por asfixia e vai sobrando outro tanto gás livre para  mais alguns se prolongarem por um pouco. 

Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...