Saio de casa, descalço, com os pés cheios de pó, de ervas, de lama. Os sapatos caros não me servem de nada: sinto a grama na alma, o frio nos ombros, o peso no sorriso. Caminho, por entre a chuva, sem um destino. Espero que as respostas surjam na minha cabeça. Espero que as circunstâncias se disponham para me ajudar. Espero que os sonhos me dêem respostas. Espero e não encontro e continuo a acumular lama, por entre os dedos. São montanhas de lixo. É sangue como feridas. É uma caminhada que parece não ter um fim. Adormeço um pouco, só para meditar em conforto. Percebo que não posso parar... Depressa chega alguém e te esquece, pela substituição. Um dos maiores medos da minha vida sempre foi o do esquecimento. Do mal-trato. O do não reconhecimento. E, nas alturas em que a minha própria estrela se apaga, só me rodeio das luzes que não posso ter, voltando as costas, para ver a sombra. Não encontro. E rodo sobre mim mesmo. Esqueço-me do caminho. A alma pensa: é a apenas um dia mau. O piloto automático ligar-se-á amanhã e continuarei a acreditar nas mentiras que criei para custar menos. E, um dia, quando estes piores dias terminarem, espero ter uma poltrona vermelho escarlate à minha espera. Confortável. Admirável.
Há em dias em que me sinto especialmente perdido. E hoje é um desses. É uma procura do nada. É um caminho constante de auto-competição. Paro. Respiro. Penso. E adormeço. Acordado, penso, querendo: "tivesse adormecido e jamais acordado". São tempos de mudança em que o meu coração não cabe no punho em que o prenderam.
Luís Gonçalves Ferreira
Adorei :) Principalmente a última frase !
ResponderEliminarBeijinhos*
Não deixes que te prendam o coração. É a tua fonte de vida, e quando o tiveres preso, aí entenderás que, sem querer ou até querendo, perdeste a tua alma.
ResponderEliminarLindo, e obrigada por este momento tão nostálgico.
É verdade o que dizes. Muito obrigado pela poesia destas palavras. É por isto que vale muito a pena ter blogues.
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