Avançar para o conteúdo principal

Uma cena muito básica

Ia escrever aqui um imenso texto sobre hipocrisia, falsidade e falta de rectidão. Sobre pessoas que dizem mal das outras, no escondido, e depois lhes bajulam a cara. E que a seguir teatralizam-se e se mascaram e acreditam nas próprias mentiras. Não fosse essa uma metáfora deles próprios e dos outros e de todas as suas relações; numa verdade irrenunciável que socializar é como ter um íman que atrai iguais a nós, ou que, mesmo diferentes, nalguma altura serviram as nossas carências. E desta língua que os critica, é a consciência certa de que um dia convivemos no mesmo ninho, na audição das coisas que sobre si acusavam, nunca directamente a quem de direito. 
Continuaria a desfilar sobre todos esses itens básicos, já muito discutidos, amplamente criticados pelos que já fizeram o mesmo, tornando este estado uma espécie de memorial de um ressabiado. Mas não. Apenas e só, por que tudo isso me deprime profundamente. E o que me deprime eu não gosto de falar: não há forças que combatam aquilo que só o amor-próprio conseguirá destruir.
Disto tudo, sobram a certeza do erro, a analítica (absoluta) verdade que há seres vazios de bondade e compaixão, e de que socializar é uma cena muito fodida. E, às vezes, dói mais do que arrancar um dente.
Não há morfina nenhuma que anestesie isto.

Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...

Árvore de Natal 2009

Pausei os estudos e avancei, com a minha irmã mais velha, para a feitura de mais uma árvore de Natal (sem nós provavelmente ninguém teria prazer de a ver montada). Natal sem árvore não existe, mesmo que a ceia de 24 de Dezembro não seja aqui em casa (é rotativo, entre todas as famílias que jantam juntas na Consoada). Sinto-me, finalmente, dentro do espírito natalício. Eu não me deixo levar pelos efeitos de Novembro, nos Centros Comerciais. A ser cumprida a tradição só faríamos a dita cuja Sôdona Árvore a dia 8 de Dezembro, festividade da Nossa Senhora da Conceição. Como não se sabe o tempo do amanhã e do depois, fica pronta e iluminada. Falta-lhe os presentes ao lado do menino Jesus, pois só são colocados em hora mais próxima do Natal. Aqui não há Pais-Natal nem renas. Existe Jesus, Maria, José e os três Reis Magos. Espero que a noite da consoada seja tão bonita como a do ano passado . Já fizeram a vossa árvore? Luís Gonçalves Ferreira