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Falasse eu de amor

Um dia algum amigo disse «tudo se vai resolver». E resolveu. Talvez não se tenha feito o problema desaparecer, pela mudança da substância das coisas, mas por uma espécie de habituação do corpo à carência: como quando tu te controlas para não voltares a consumir cocaína. «o Tempo cura tudo», disseram-me. E mentiram. O tempo não cura tudo, ajuda-te, apenas e só, a saber lidar com as perdas com o menor sofrimento possível, o que não faz do problema ultrapassado; fá-lo adiado. E no meio desse processo - o do adiamento - vais aprendendo imensas lições sobre ti próprio: desde a forma como sofres, à espécie de coisas que sentes perante as adversidades. Há coisas que não passam. E, para sofrer menos, temos que forçadamente tomar consciência disso: há coisas que não passam, por mais que tu o queiras desesperadamente. Acolhe o sofrimento, agradece-o e não queiras sofrer novamente. Estivesse eu a falar de amor e de coisas possíveis de fazer como a facilidade de as escrever.

Luís Gonçalves Ferreira 

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Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...