Vim para confessar a minha pena, à distância. Neste grito quase mudo. Vim para sussurrar o meu pesar, o peso do teu partir. Vim chorar, ao pé das memórias e das fotos que em ti peco, repetindo-me. Fustigando-me. Auto-flagelando-me. Distanciado, entre promessas queridas a ferros, aumenta-me a saudade na proporção do lutar por não a sentir. Das suposições, dos pecados, do orgulho e do preconceito. Tenho medo. E acho que desta vez é de algo diferente. Sinto o teu cheiro, ao virar da esquina, falta do teu imperfeito e maroto sorriso que só em fotos vejo. Desse desajeitado sorriso que me cala, e clama, e grita, e chama, da fogueira que ainda não se apagou. Fazes-me falta. Imensa falta. Ou eu tão-só acho que sim, quando tenho medo. Estou neste canto. E tenho algum medo. Não tarda chove, o Verão acaba, o canto continua, intacto, desesperado, espero que já sozinho. Estou a despedir-me e a matar, como erva daninha, todo o fruto que se quer pousar e voar por aqui.
Luís Gonçalves Ferreira
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