A puta da doença que te consome por dentro, e queima quem tu amas, é uma merda. Destrói-te e corrói de quem tu gostas e isso é fodido. É macabro. Não devia haver nenhum direito divino que permitisse sofrer assim. O amargurar de ver quem amámos a fugir-nos por entre os dedos, e nós não podermos fazer nada por isso... É um ensinamento de impotência e um escarro na cara. De entre outros tantos que vêm depois. Sabes, essa doença é talvez das únicas que me isola e encosta à parede. E não consigo fazer outra coisa senão chorar. É como um luto, à partida. Por que, com ela, mesmo que não se morra, morres todos os dias: Tu, que sofres dela, e quem sofre dela, por ti. Há partes de ti que matas e outras que vês renascer - é a maior das sinestesias. Essa e aquela que sentes ao veres aparecerem forças que nem tu sabias que tinhas. E jugos quem nem sabias seres capaz de suportar. Tudo isto me faz lembrar o mar. É estranho. As lágrimas são salgadas, já reparaste? E há quem não faça outra coisa senão analogias com barcos, pescadores, dores, partidas e fé. Há ali uma capela junto ao mar, feita de tijolos de orações, refúgios e perdas e morte. E esperanças. Foi de propósito que as isolei: são o único farol que vejo. Espero que um dia aquela imensidão se lembre de nós e diga "é teu, outra vez". Aí amarás plenamente, com outra consciência.
Luís Gonçalves Ferreira
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