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Miss II

A puta da doença que te consome por dentro, e queima quem tu amas, é uma merda. Destrói-te e corrói de quem tu gostas e isso é fodido. É macabro. Não devia haver nenhum direito divino que permitisse sofrer assim. O amargurar de ver quem amámos a fugir-nos por entre os dedos, e nós não podermos fazer nada por isso... É um ensinamento de impotência e um escarro na cara. De entre outros tantos que vêm depois. Sabes, essa doença é talvez das únicas que me isola e encosta à parede. E não consigo fazer outra coisa senão chorar. É como um luto, à partida. Por que, com ela, mesmo que não se morra, morres todos os dias: Tu, que sofres dela, e quem sofre dela, por ti. Há partes de ti que matas e outras que vês renascer - é a maior das sinestesias. Essa e aquela que sentes ao veres aparecerem forças que nem tu sabias que tinhas. E jugos quem nem sabias seres capaz de suportar. Tudo isto me faz lembrar o mar. É estranho. As lágrimas são salgadas, já reparaste? E há quem não faça outra coisa senão analogias com barcos, pescadores, dores, partidas e fé. Há ali uma capela junto ao mar, feita de tijolos de orações, refúgios e perdas e morte. E esperanças. Foi de propósito que as isolei: são o único farol que vejo. Espero que um dia aquela imensidão se lembre de nós e diga "é teu, outra vez". Aí amarás plenamente, com outra consciência. 

Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...