Há um canal de televisão em que uma mulher adulta convive com o pai da sua filha. O pai da sua filha apaixonou-se, aparentemente, por outra. A outra é mais uma, na equação de soma que ele parece ter feito a sua vida. A mulher, aparentemente adulta, é vulgar como a maioria das mulheres: culpa a outra, mas corre atrás dele; e não consegue objectivar culpas, porque está cega. Tenta dormir com ele. Força-o em beijos, em olhares, em significados. Usa a filha como arma. Ele, que não tem escrúpulos, alimenta-se disso: rega-lhe as plantas, e garante que tem uma cadela pelo maior tempo possível. Aceita que ela se iluda, faz, humilhando-a, com que o teatro continue. A outra - a que tem menos culpa no meio disto tudo - não vale nada, porque não se afasta e ainda se promove. Também não percebe que na vida as pessoas raramente mudam no campo dos valores, e os papéis invertem-se numa plataforma giratória debaixo dos nossos pés.
E, por mais distante que o programa que falo nos seja, já todos fomos ou observamos uma "mulher adulta", convivemos ou fomos o "pai da sua filha" e usamos ou vimos uma "outra", a que nos promove o ego, destrói outro e cresce assim. É triste. Não sei de qual das personagens tenha mais pena. Se destas, as dos espectáculos de televisão em guião aberto, ou se das do mundo verdadeiro. Aposto que estas últimas não conseguem fazer analogias para as suas vidas. E deviam. É uma questão de manipulação de ângulos. Seríamos espectadores orgulhosos das nossas vidas?
Luís Gonçalves Ferreira
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