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O Coração e os Nomes

Todos morreremos?, exclamou o Apóstolo, perguntando ao Mestre. Eu Morri, retorquiu de imediato o que se sentava à direita Dele. Repetiram-se imensas outras respostas, umas mais proféticas e inteligentes do que outras. O Mestre continuava em silêncio. Rapidamente a sua amada, levantou-se e perguntou: Mestre, porque falas tanto em silêncio? Ele, ainda calado, levantou-se, fez-lhe sinal e trocaram de posições na mesa. Na verdade, não havia amor como aquele. Estava Ela agora ao centro. Numa assertividade arrepiante, o Mestre profetizou: A Morte é isto - uma leve troca de posições. Eu aprenderei a viver neste local e tu nesse; e os outros, na base destas palavras, construirão as suas esperanças e sofrerão as suas desgraças. Às vezes, na vida, um floco é um nevão e uma torrente tão-só uma chuva que nos molha o rosto. Importa daquilo que ti, dos teus olhos, do teu pensamento, dos outros, apreendes para a vida. O que são neves e tempestades ao pé do abismo que é o nosso coração? Será lá que mora a morte ou naquele suave movimento onde os locais se moveram?

Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...