Foi hoje a enterrar a última grande glória do Estado Novo. Feito pobrezinho, comedido, como a sociedade que Salazar defendia, Eusébio plantou-se com a força do seu inquestionável talento no memorial colectivo português. Como a História quehoje aprendemos na escola, o passado que de tão pouco nos orgulhamos - e alguns teimam em fazer de conta que não existe -, Eusébio é em si a mentalidade portuguesa, fazendo-se em si próprio uma confusão mística sobre o Portugal colonial e o Portugal moderno. Sem efeitos de borbuleta, Eusébio sempre mereceu o meu respeito, quanto mais não seja por nos fazer conscientes do que somos, enquanto agregado de gente. O resto são tretas. Isso e quem teima em confundir Eusébio com outras coisas, especialmente conflitos de egos, e problemas bem mais importantes e significativos, como a nossa falta de cultura e educação para as artes e o pensamento crítico. Morreu o Eusébio, mas o Estado Novo que há em nós não.
A Amália, o Eusébio e a Nossa Senhora de Fátima são importantes. Como o Tony Carreira e o Cristiano Ronaldo o são. Ou até a Joana Vasconcelos. Nós somos assim: esteve povo pequenino, e capto. E não há pantera que nos salve, apesar da nossa uma incrível capacidade de mobilização por algo com o qual nos identificamos. Somos apaixonados, e isso é bonito. E Eusébio também o era, pelo menos os seus olhos iluminavam-se quando falava de futebol.
Descansa em paz, Eusébio. Fico feliz que te tenham deitado a mão a tempo de não te ver nas capas dos jornais, a morrer de fome e inglória.
Até sempre.
Luís Gonçalves Ferreira
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