Ia escrever um imenso texto sobre a minha mãe, mas fiquei mudo, porque me parece tudo ridículo. Por que quando se sente tudo isto por alguém e se vê tanto que de explicável pouco tem, as palavras todas do mundo não chegariam. Às vezes é preciso saber ficar em silêncio e demonstrar coisas. Por que terá sido o silêncio o maior ensinamento que, destes 50 anos dela e 24 de convivência mútua, importe.
A minha mãe faz 50 anos hoje. Só espero um dia ter a dignidade suficiente para ser um pai como a mãe que ela foi para mim. Não me falta nada e o amor é tão grande que, como os lugares da mesa grande que temos, chega para mais um. A minha mãe tem uns olhos verdes oceano dos mais bonitos e profundos que já vi. Está cansada, de tanto trabalhar, mas sei que o faz por mim e pelas minhas irmãs. É a maior âncora e o maior suporte. E talvez a maior imensidão que guardo. A minha mãe surpreende-me todos os dias por ser tão infinitamente boa para com os outros. E isso é um guia que me orienta todos os dias, mesmo quando me revolto perante esta frieza generalizada que paira sobre o mundo. Não há pessoas perfeitas, mas há pessoas que rasgam cicatrizes no nosso coração que nunca saram. A nossa ferida soldou numa linha que jamais se largará. E este vínculo é tão surdo e poderoso que só me dá vontade de ficar quieto, a vê-lo. Obrigado, mãe. Por tudo, mas especialmente pelo silêncio que me ensinaste a valorizar.
Luís Gonçalves Ferreira
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