É sábado à noite, como muitos outros. A chave roda a fechadura e a porta abre. Um armário à frente, com livros e garrafas por trás. Uma janela ao fundo. Ao lado direito, uma tela. Verdes com grenás tímidos, e um amarelo tosco fundido no fundo. Um televisor mudo e um móvel raso. Há um tapete no chão. E um silêncio toma as rédeas do campo, e do escuro singular que faz nesta mor esquina de uma cidade qualquer. Uma solidão talhada a canivete, devagar para não doer. Um atalho para a minha própria mente: uma explosão entre a surdina do televisor, os livros por terminar e um longe da família que escolhi. Há mil cores na tela, e um espírito penumbrante que me dá cabo da espinha e adormece os pés: é a idade e o desrespeito pelo corpo que gritam tão alto quanto as cordas aguentam. Nem o piano é tão branco e nem a música me comove da mesma forma. E há rotina inteira para recalcular. E um vazio de perguntas por responder. O silêncio sempre foi uma cena fodida. Por meses esqueci-me disso. Acomodei-me ao reajuste, sempre com trejeitos de companheiro-campeão que se quer melhorar. Que me perdoem os deuses.
Luís Gonçalves Ferreira
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