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O laço

Foste o para sempre mais próximo do qual já estive. Do irremediável sabor de nem ter medo da entrega, da paixão eterna, ou da falta de lucidez de partir para um mundo sem nada na algibeira. Achei que me alimentaria do teu amor, dele retiraria frutos, vantagens e um sustento espiritual pelo qual me escusaria a partilhar como mais ninguém. Auto-suficiência da tua luz. Lembro-me de acariciar e desejar continuar a fazê-lo, por mais longe dos tempos que estivesse. Ficar ali, sentado, até que as pregas dos olhos se juntassem às das maçãs do rosto e rugas da boca escorregassem nos contornos do queixo. Lembro-me de te querer tão ardentemente que sentia a pele descolar-se do músculo e o músculo dos ossos. O febril que era o meu corpo quando tocava o teu. 
És como uma memória infantil presa num jardim onde rosas moram com espinhos. Sei do cheiro de ser eu contigo, mas já não sei do teu cheiro. Não é mais meu. Essa é a metamorfose do estar longe fisicamente: a fusão da história que, sozinha, a memória diz real.

Luís Gonçalves Ferreira

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Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

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Árvore de Natal 2009

Pausei os estudos e avancei, com a minha irmã mais velha, para a feitura de mais uma árvore de Natal (sem nós provavelmente ninguém teria prazer de a ver montada). Natal sem árvore não existe, mesmo que a ceia de 24 de Dezembro não seja aqui em casa (é rotativo, entre todas as famílias que jantam juntas na Consoada). Sinto-me, finalmente, dentro do espírito natalício. Eu não me deixo levar pelos efeitos de Novembro, nos Centros Comerciais. A ser cumprida a tradição só faríamos a dita cuja Sôdona Árvore a dia 8 de Dezembro, festividade da Nossa Senhora da Conceição. Como não se sabe o tempo do amanhã e do depois, fica pronta e iluminada. Falta-lhe os presentes ao lado do menino Jesus, pois só são colocados em hora mais próxima do Natal. Aqui não há Pais-Natal nem renas. Existe Jesus, Maria, José e os três Reis Magos. Espero que a noite da consoada seja tão bonita como a do ano passado . Já fizeram a vossa árvore? Luís Gonçalves Ferreira