Plano verde, um caminho de pedra e as mesas prontas para a partilha. Venho de baixo, de trazer mais uns convidados. Ou uns amigos. Talvez família, mas sei que era amor. "Onde estão?", perguntam-me, curiosos, por entre questões sobre a piscina e explicações sobre o parque. Respondo, entusiasmado, "mais a cima. Ali, são os que saltam à corda!". Aproximei-me mais um pouco e a minha mãe, de costas voltadas, com uma amiga de infância, ria-se como uma menina, saltando à corda. Ou como duas meninas ou três, pareciam um batalhão que até fiquei confuso. É a imagem mais bonita da minha vida nos últimos tempos: vi a minha mãe menina. Ela está onde sempre esteve, apesar do trabalho, das canseiras e de uma rotina que, tantas vezes, deixa planos para segundo plano. Hoje foi especialmente bom por isto e por ter a terra, as pessoas, os cantares, as mantas no chão e o verde da grama perante os olhos. Pela certeza absoluta de que a natureza, em si própria, me humaniza, pelo sentir coisas e emoções que me dá. Não haverá nada mais inteiro do que se ser a sentir. Estou cheio. Mesmo que, na ressaca de o estar, vir esta melancolia de escrever textos sobre quem nos faz falta e quem queríamos voltar a ver. No Mistério da Vida também há perdas, como há ganhos. Sobra, porém, vida, renovação nos dois sacramentos próximos da família que me fez isto que sou. Ver o Mistério da Vida na primeira bancada torna-me pleno. E a plenitude é tudo, nem que seja pelos instantes com os da chuva.
Luís Gonçalves Ferreira
Luís Gonçalves Ferreira
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