Eis que me toma a noite. Aos golos, como o último whiskey que bebemos juntos, no mar. Lembro-me de tudo em ti, principalmente a saudade que já não tenho. Recordo-me do barulho que as ondas faziam no meu peito apaixonado. Os nossos corpos suavam ainda quietos, por saberem das tentações que juntos comungavam. Titãs observantes de Cartago a Roma.
Éramos como fiéis a caminho de Santiago, talvez ultrajados pela promessa de uma vida em paz.
Recordo-me do peito flamejado que sentia. Da ardência dos olhos que torneavam as memórias de perdas e alcances que consumíamos.
Tenho sete saudades na vida, como os gatos e como Jesus as disse na cruz.
Três saudades já as perdi.Tenho quatro saudades sobrantes e não sei que destino dar. São quatro mortes, três vidas restantes.
Uma vida perdi-a, se calhar, em ti. As vírgulas mergulham-me. Embato numa
memória e o dicionário cai da estante como a abóbada que ruiu na catedral.
É abril e não há flores no meu jardim. Ainda sinto o cheiro branco das magnólias.
Luís Gonçalves Ferreira
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