Avançar para o conteúdo principal

sobre a escrita

O poder das palavras é inquestionavelmente infinito. São o nosso maior compromisso para com os outros: fusão do planisfério da mente com o concreto dos sentidos. 
Sempre senti uma disfunção entre o painel do cérebro e a capacidade de concretização. Como se palavras fossem poucas para personificarem o que, de leve, pelos pensamentos transborda. É de um caso de deficiência muda na comunicação, ou escravatura dela, se tratasse. Digo, muitas vezes, que sinto uma prisão enorme dentro de mim próprio. Como a voz gritasse, em desespero, "salva-me", e as pernas nem do lugar conseguissem sair. Como se as emoções tivessem sido enclausuradas e uma parca tristeza em relação ao mundo se acumulasse. 
O dinheiro, o poder, o amor e os jogos de ego. A incapacidade de relacionamento e uma doença interior que cresce, como um cancro do sentir. Dizia hoje, a uma amiga, que passei de uma tristeza desiludida para uma tristeza calada. Como se o desintegrar absoluto do mundo tivesse conquistado o seu maior pódio: o da força interior dos seres mudos; dos acomodados que em cima de muitos se amontoam; da soma dos iguais. 
Venho no automóvel e a poesia cresce. Não há nada mais romântico do que aquilo que escrevemos sem violarmos as barreiras do som. Entre o primeiro acto criativo e a exteriorização há palavras que se perdem para sempre. Há outras mais que ficam e eternizam. Não tenho noção qual dos valores é o maior.
Escrever submerso é impossível: que lamento!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Repondo a verdade

Depois de inúmeras tentativas (que agradeço), passo a devolver o dente ao leão, a identificar aquilo que é verdade ou mentira: 1. Adoro manteiga de amendoim Verdade. Quem convive comigo (ou quem me ouve falar) sabe desta paixão. Em pequeno ia para a casa da minha tia e comia pacotes dela. Hoje, depois do sofrimento para emagrecer, contenho-me no consumo. Mas a paixão existe, ai se existe... 2. Compro todas as edições da “Super Interessante” Verdade. Compro-as todas (pelo menos de há dois anos para cá) sem falhar um número. Fascina-me a forma despreocupada, límpida e inteligente que pautam os artigos da revista. 3. Já apareci no programa da Fátima Lopes vestido de anjinho Verdade. A minha mãe foi ao programa SIC 10 Horas demonstrar ao país o seu ofício (vestir anjinhos) e eu, filho devoto e cumpridor, pousei como Jesus Cristo (com cabeleira e tudo). Vergonha. Foi o que me restou do acontecimento. :) 4. Leio a Bíblia constantemente e o meu Evangelho favorito é o de Mateus ...

Aceitação do Prémio Lusitania História – História de Portugal Academia Portuguesa da História

Senhora Presidente da Academia Portuguesa da História, Professora Doutora Manuela Mendonça,  Senhores Membros do Conselho Académico, Senhoras e Senhores Académicos,  Senhor Dr. António Carlos Carvalho, representante da Lusitania Seguros, S.A., Ilustres Doadores,  Senhoras e Senhores,  Vestidos de Caridade, Vestidos de Fé, Vestidos de Serviço, Vestidos de Pátria.  São vários os nomes que podem ter os vestidos que, ao longo da História, foram oferecidos de ricos para os pobres, dos homens e mulheres para os deuses, dos senhores para os seus criados e criadas, de um país ou reino para o seu povo, do ser que não se é para o que se quer ser. Em todos eles há pedido, necessidade, dádiva, hierarquia e crepúsculo. A minha avó Júlia, costureira de ofício e filha de um armador de caixões, fez durante décadas roupas de “anjinho” que alugava nas festas e romarias do Minho. Miguel Torga, num de “Os Contos da Montanha”, referiu que nem o Coelho nem outro qualquer da aldeia o ...

Carta IV

Avó, como estás? Noutro dia, como sempre, fui ver-te ao local onde está a tua fotografia e umas frases iguais a tantas outras. Eram vermelhas, as tuas flores. Estava tudo bonito e arrumado. A tua nova casa, como sempre, estava tão fria. O dia está sempre frio quando te vou visitar lá, já reparaste? Espero que no céu seja tudo mais ameno e menos chuvoso. Tu merecias viver mais tempo, porque eras calma, serena e um porto seguro. Queria voltar a ser menino e ter-te novamente e dar-te tudo o que merecias de mim. Era muito pequeno para perceber como merecias mais carinho... Tenho saudades tuas, avó. Do teu colo. Do teu carinho. Da tua protecção e de quando ias comigo passear, à terça-feira. Fomos dois companheiros muito fortes, não fomos? Deixaste-me de responder... Não te oiço. Mas sinto-te. Sinto muito a tua falta, onde quer que estejas.  Tenho muitas saudades tuas. Muitas mesmo.  Até logo, nos sonhos, avó. É só lá que me consigo encontrar contigo e abraçar-te docemente. Luís...