O problema não está na possibilidade de se comprarem armas de forma fácil ou barata. O problema não reside na disponibilidade de conduzir um camião e dele fazer um tanque de guerra. A questão não se encontra com os que, por desorientação ou livre arbítrio, se deixam recrutar pelas demagogias do Estado Islâmico. A dinâmica do terrorismo está para além das ideologias religiosas, das críticas a estilos de vida, ou das barreiras físicas que os países ergam entre si. O terrorismo orienta-se pelo impacto que tem junto daqueles que prezam a vida humana como valor fundamental na condução da sociedade em direção à felicidade, à harmonia ou à justiça.
Os desvios interpretativos a respeito do terrorismo, feitos pelas classes políticas ocidentais, não devem fazer com que o nosso juízo crítico, de cidadãos ativos, se desvie do fundamental. O problema do terrorismo não tem que ver com a disponibilidade dos meios para perpetrar crimes hediondos; ou com existência de teias legais que compliquem a ação dos prevaricadores; ou com os estados de emergência que façam do Estado um ser supremo que age de fora para dentro. O terrorismo é uma fuga declarada ao normativo, ao ideal de sociedade que defendemos e, maxime, consiste num questionamento sobre o modelo de convivência social. Assim o é na França como na Etiópia, Síria, Sudão ou na China; assim o é na consciência de qualquer pessoa, livre para hierarquizar os valores comuns a todos os seus pares.
Levar o problema do terrorismo para pensamentos e discursos xenófobos, racistas, homofóbicos ou intolerantes, é seguir pelo caminho da desorientação que é o horror ou o sangue gratuito nos canais de televisão. Essas atitudes questionam, tal e o qual o terrorismo, o contrato social que assinamos com o Estado que, com a lei, as outras normatividades e os indivíduos, conduz a sociedade e os seres humanos para a felicidade.
Hollande decretou mais três meses de estado de emergência em França, após os atentados, emendando-os na data de 26 de julho, altura em terminaria um outro estado de emergência, declarado a propósito dos atentados de Paris, em novembro do ano passado. Que a intolerância não nos conduza ao absolutismo e que a liberdade se saiba entender com a segurança; que questionemos, com força e consciência, o destino do Estado-Nação, um credo tantas vezes cego como inúmeras vezes necessário; que nos preocupemos com o criminoso, onde reside o problema e, provavelmente, a sua resolução; que nos desprendamos de palavras precipitadas e odientas, que nos fazem semelhantes ao terror e afastados da paz e da felicidade que prometemos aos nossos filhos.
Façamos um enorme cordão de esperança para todos aqueles que, em França como em qualquer lado do mundo, se veem obrigados a viver estados de emergência por motivos alheios à sua vontade.
Luís Gonçalves Ferreira
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