Olhei e vi-me ao espelho. Desejei tantas vezes que chegasses até mim que me perdi nos entretantos. Encontrei-me na universidade, nas casas novas que compunha e nas ilusões que cultivava. Invejei muitos amores ao meu lado: histórias contadas sobre as férias passadas juntas. Quando seria a minha vez?
Chegaste e nem dei por ti. Senti que te esperei a vida toda, mesmo quando, entre sofrimentos e lágrimas, me jurava voltar a amar. Entraste e nem convidei. Quando reparava já sentia o teu cheiro colado à minha pele e boca encostada na minha.
Abri os olhos e achei-me adormecido: os pés, as mãos e todo o corpo eram calor. Fomos para a serra e para junto do mar: conhecia apenas as ondas pelos sofrimentos aliviados; contigo conheci-as pelas alegrias que traziam. Castelos, brisas e ventos. Sopros. Ensinaste-me sobre o mar.
Desejei que chegasses. Tantas vezes. Escrevi, outrora, que sentia a pele tão quente e achava ter chegado a minha hora. Chegou. Tenho os nossos rostos na minha cabeceira, o teu peito na minha almofada e a tua pele que há em mim.
Não teria chegado tão longe se não fosses tu. Não teria chegado tão perto se não estivesse partido de tão longe.
Coração e pedra. Mágoa e desespero. Sorriso e amor: eis o retrato que mora ali, no espelho.
Luís Gonçalves Ferreira
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