Queria escrever algo sobre como é arrepiante acordar ao som de uma vitória de Donald Trump nos EUA, mas não consigo denunciar mais do que o meu lamento. Resta-nos acreditar na democracia americana, no controlo e interdependência de poderes.
Acordar com a vitória de Trump é o similar ao despertar com o Brexit. Não reconheço este mundo em que vivemos, que faz do ódio, da xenofobia e da intolerância realidades institucionalizadas. O voto popular, ferido de morte pela crise, baba-se perante a bandeira de um prato de comida. Algo de errado se passa connosco: ou perdemos a racionalidade, a inteligência e a sabedoria sobre o poder do voto; ou sistema prova que não presta. Contudo, não somos americanos e, pela leitura do poder representativo, a eleição americana não nos diz respeito diretamente, como não cabe aos japoneses interferir nos factos que lhe empobrecem a bolsa de valores. A democracia permite a ascensão de ditadores, como se fez prova ao longo da História.
Não sei o que é dormir com medo, como sabem, certamente, os refugiados que cruzam as nossas fronteiras de papel; ou os mexicanos que voam pelos desertos de arame farpado.
Talvez a sociedade ocidental precise de ser perturbada pelo medo. Eis o início: abram os vossos olhos, desviem-nos dos vossos umbigos, encarem os vossos pares e vejam, atentamente, o lugar onde hoje, em conjunto, chegamos.
Luís Gonçalves Ferreira
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