Recordo saudoso o primeiro dia em que te vi. Sinto que me apaixonei antes de ti; recortei bem o teu rosto, os teus lábios e o teu sorriso; desenhei muitas vezes a vida que tivemos juntos; tive-a antes de te ter. Lembro-me de não sentir muito do tanto que era amar-te mais de todos os dias.
Ainda me tropeçam lágrimas por nunca esquecer os teus amigos, aqui em casa, rindo, enquanto planeava o próximo beijo que iria dar, naquele intervalo saudoso dos livros e dos móveis que, em conjunto, distribuíamos.
Hoje, depositado na minha solidão, sendo refém de algum desdém, encerro a alma e recordo o teu cheiro, no bom gosto que emprestavas aos teus cozinhados ou às camisas que engomavas.
Olho a porta de madeira e imagino-a a abrir, comigo sentado no sofá, à tua espera, meio furioso por mais uma demora; saudades.
Nada disto é igual desde que nos separamos. Dantes sangrava em jato, a cada despedida, mas hoje vais em conta-gotas. Chamam-lhe maturidade e eu entendo distância.
Tenho saudades tuas. Tantas como as que tinha quando te conheci, naquele bar, num dia frio de inverno. Não é por morrer uma andorinha que acaba a primavera: é verão e não sei nada sobre ti.
Onde foi que nos perdemos?
Luís Gonçalves Ferreira
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