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catedrais

Há duas ou três coisas de que gosto muito: as pessoas castiças são uma delas. Daquelas que têm carácter e dizem as coisas sem rodeios; das que continuam a amar, mesmo depois de mil demónios lhes terem arrancado o coração; das que abraçam e beijam e amam pessoas do mesmo sexo na rua, sem medo dos ovos podres que são os olhares dos outros. Eu gosto muito de pessoas que se dão e se entregam e se amam. E quando me esqueço de como é bom ser e sentir, abrindo uma espécie de saleiro emocional na minha cabeça, aparece um sorriso maroto que me faz tropeçar. 

Gosto de gargalhadas e de dentes felizes. Gosto muito daquele jeito meio atrapalhado de alternativo-pop. Gosto muito de gente que me faz sentir calor dentro das veias. Gosto ainda mais quando, entre copos de vinho, os gestos falam mais do que mil bocas em conjunto. 

Lamentos aos mapas, aos tempos e aos sonhos, e estaria certo que, na rua, em casa, no corpo e na mente, os sinos da catedral iriam tocar a repique por cada beijo nosso. 

Somos sempre (soli)tu(de). 

Luís Gonçalves Ferreira

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