As pessoas que estudam ou estudaram na Universidade do Minho, e que, por necessidade, vão aos Serviços Académicos, não conseguem passar indiferentes à disponibilidade, simpatia, empatia da conhecedora funcionária Margarita Oliveira. Parece que não há ali mais ninguém, apesar de, certamente, os serviços estarem cheios de funcionários competentes e informados quanto ela. Mas ninguém trabalha com a mesma leveza e o mesmo amor em relação a funções aparentemente tão aborrecidas. É assim que os outros tratam; mas ela não.
Em 2014, quando tomei a decisão de tentar a minha sorte, fora do prazo para as transferências, sem saber que nesse mesmo dias saiam os resultados ordinários, foi Margarita que me atendeu. Perguntei-lhe como se tramitava e disse-me que as hipóteses de escolha eram muito poucas. Pediu-me uma ideia de cursos que gostava de frequentar e, desprevenido de melhor memória, lembro-me de ter atirado Psicologia e História. Depois de visto, tinha uma vaga ali, vazia, talvez à minha espera. Inscrevi-me e esperei até meados de Novembro para saber o resultado.
Dali à inscrição e frequência foi um salto, sendo que cheguei às aulas a dois dias do primeiro teste da licenciatura, na altura de Civilizações Antigas. Falei com o professor sobre a minha situação, tendo-me demonstrado a simpatia de um "paciência, estude". Talvez tenha sido isso que me fez amarrar os primeiros apontamentos que consegui arranjar e preparar-me - sem perceber nada daquilo! - para aquele primeiro passo. Tive a segunda melhor nota da turma e creio ter visto os dados lançados.
Passaram três anos de uma entrega absoluta e apaixonante, onde não apenas recuperei o meu ânimo, mas também rejuvenesci intelectualmente. Reativei a minha auto-estima e senti que cheguei ao sítio que me esperava, como escreveu o meu querido José Saramago. A licenciatura significou muito mais do que aquilo que uma graduação normalmente significa: há uma parte da minha história de recuperação pessoal que vive nas entrelinhas das coisas que li, dos autores com quem contactei, dos professores que tanto me ensinaram e dos colegas que sempre me respeitaram. Foi um crescimento tão brutal que às vezes me fazia doer o corpo, como nos bebés.
Hoje, quando fui pedir a Carta de Curso aos Serviços Académicos, foi Margarita Oliveira que me atendeu. Deu-me os parabéns pela minha média, tendo dito que para se ter boas classificação nas ciências como a História - aparentemente mortas - é preciso gostar-se muito. Disse-lhe aquilo que digo muitas vezes: fui eu o escolhido pela História e a História fez reconhecer-me. Deixei-a levantar-se, pegar num papel, e contei-lhe que foi por ela que tudo isto começou, quando os Serviços estavam provisoriamente no CP3 e fazia muito calor (algures em inícios de outubro ou finais de setembro). Agradeci-lhe, prometi que nunca me iria esquecer de tudo o que lhe disse e dei-lhe os parabéns por ser a funcionária extraordinária que é: para mim e para todos os outros que são processos num gigante maquinal como é a Universidade do Minho.
Firmamos um aperto de mão forte e, assim, talvez se tenha oficialmente fechado um ciclo. Ou talvez não; quem sabe.
Luís Gonçalves Ferreira
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