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Agonia da modernidade

É curioso que o Bolsonaro capitalize votos com base no combate à corrupção: os ditadores não conhecem limites jurídicos ao seu poder pessoal; o personalismo e paternalismo desmedidos são formas muito sérias e graves de corrupção moral e de usurpação da legitimidade política de todos pela capacidade de alguns; a usura da coisa pública à luz do tabelamento de dislates absurdos. Os ditadores são como cobras ardilosas que comem carne na Turquia enquanto os seus eleitores - a razão de ser do seu poder - morrem de fome. A eleição de ditadores ou populistas prova-nos que, em conjunto, falhámos - não cumprimos os nossos deveres e não provamos a todos e todas que o Estado de Direito Democrático cumpre as suas funções, especialmente a de proteger as expetativas de todas e todos prescritos no contrato social. Falha o homem médio e a modernidade baseada no progresso; falha a história e a cultura; falhámos todos, mesmo sendo europeus que nada têm que ver com o Brasil. Depois de ganhar a segunda volta, Bolsonaro começará a reclamar da Constituição - é quase sempre assim que estas histórias começam.

Luís Gonçalves Ferreira 

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