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Agonia da modernidade

É curioso que o Bolsonaro capitalize votos com base no combate à corrupção: os ditadores não conhecem limites jurídicos ao seu poder pessoal; o personalismo e paternalismo desmedidos são formas muito sérias e graves de corrupção moral e de usurpação da legitimidade política de todos pela capacidade de alguns; a usura da coisa pública à luz do tabelamento de dislates absurdos. Os ditadores são como cobras ardilosas que comem carne na Turquia enquanto os seus eleitores - a razão de ser do seu poder - morrem de fome. A eleição de ditadores ou populistas prova-nos que, em conjunto, falhámos - não cumprimos os nossos deveres e não provamos a todos e todas que o Estado de Direito Democrático cumpre as suas funções, especialmente a de proteger as expetativas de todas e todos prescritos no contrato social. Falha o homem médio e a modernidade baseada no progresso; falha a história e a cultura; falhámos todos, mesmo sendo europeus que nada têm que ver com o Brasil. Depois de ganhar a segunda volta, Bolsonaro começará a reclamar da Constituição - é quase sempre assim que estas histórias começam.

Luís Gonçalves Ferreira 

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...