Há muitos conceitos no hipertexto entre a noção de museu nacional e o diálogo que o estado-nação estabelece de forma privilegiada entre o artefacto, a história e a memória. Há noções intrínsecas sobre o valor deste ou daquele património, que se agasalha e evidencia num tipo de narrativa que desfila nas galerias e nas coleções públicas. O mesmo acontece com os arquivos nacionais. Muitos deles encravam-se em gavetas pejadas de categorias naturais, cujo efeito primeiro é o de condicionar que se vislumbre para além delas. O caso do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que ardeu na passada madrugada, fala-nos muito sobre a forma como o mundo tem assistido, nos últimos anos, a uma falência brutal do sistema político brasileiro; como se a noção de estado-nação, da democracia e dos poderes gritasse por uma revisão. Os brasileiros choram e fazem luto, porque o património histórico é uma parte da família nacional, cujos recursos festejamos na educação e na cultura, entre as salas de aula e uma peça de teatro. Há muito de simbólico no aleatório que um acidente pode ter. A história é feita de desgraçadas e dos remédios que se lhe seguiram; esperemos que estas chamas provoquem algum tipo de efeito político. A memória de todxs justifica as lágrimas e os gritos pela facada de morte em algo que não tem um corpo físico quantificável. O número não atinge a alma e o mesmo devia acontecer com a cultura.
Luís Gonçalves Ferreira
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