No verão, escrevi que as casa da rua do Gualdim deitavam um bafo frio muito agradável; era uma transpiração seca de uma caverna - parecia que um monstro escondido guardava conforto para quem passava. Hoje é quase inverno, a hora muda no fim-de-semana e descobri que as pessoas também fazem vento; as pessoas têm sombra, respiram, espirram, suam e fazem vento quando se aproximam. O vento foi frio e desconfortável, porque é quase-inverno e chove na parte de fora. No verão passado não tinha sentido este vento, porque o vento que a pessoa faz é muito leve e mal se sente; o calor é mais poderoso que a pequenez do vento que a pessoa faz. As casas fazem um frio mais poderoso do que o frio que fazem as pessoas, porque o calor das casas é o vento que as pessoas têm - uma espécie de duelo de quenturas e um diálogo entre os poderes móveis e os estáticos. O vento, as pessoas e as casas são estações ou, pelo menos, aliviam-nos as sensações que delas ficam nos nossos corpos; depois há tufões que levam corpos, casas e estações - é a natureza a bufar nas alvenarias moles como na história dos três porquinhos. Confesso que o bafo do lobo foi sempre a parte da história da qual senti menos medo.
Luís Gonçalves Ferreira
Escrito originalmente no Facebook em 24 de outubro de 2019
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