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Luisinha

O nosso corpo foi desenhado para receber e dar amor. O ombro serve, desde cedo, para que nele pousem as cabeças dos bebés a pedir embalo; as mãos secam as lágrimas e escrevem poemas; os olhos revelam as verdades que, muitas vezes, os lábios escondem. O corpo guarda memórias e estórias e também diz dos sítios onde fomos e das pessoas que por ele carregamos; algumas pomos no colo e outras esfregamos na nunca. As datas de aniversário são sínteses de tudo isto e tenho pena de ter sempre este fado que observa mais do que vive; como se estar fosse memorizar, gravar, registar e pensar; às vezes, parece que não estou inteiro e que há uma parte de mim que gravita fora do tempo e se perde a sentir. Os dias de ontem e de hoje simbolizaram toda a plenitude e todos os corpos que se fundem numa única e substantiva noção de amor e família.
Festejei o primeiro aniversário e batizado da Maria Luísa, chorei a sorte e a responsabilidade de ser o seu padrinho e lancei as mãos aos trinta. Há muito futuro adiante e chegar aqui, com todas estas ideias e expectativas, é, numa lógica de poeta, tremenda imensidão de linhas que faltam escrever. Somos mais do que ossos e músculos e o tempo que contam os nossos olhos; tenho a sorte de sentir milagres com cheiro a pessoas do "agora".
Aleluia.

Luís Gonçalves Ferreira
15 de dezembro de 2019

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Sem parágrafos

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