O dia de hoje é muito especial. O meu primeiro livro, que publica a minha dissertação em história, não tem poesia nem os jogos de palavras dos textos literários, mas inicia-se com uma belíssima metáfora: a teia é urdida, colocada no tear e, com a ajuda dos pedais e pela força dos braços, põe-se a trama a brotar e o tecido a crescer. O têxtil cria-se como também se inventam as categorias do nosso pensamento. Conhecimento e saber, como o pano, são uma belíssima escultura que se realiza pela adição de matéria. Têm defeitos e cicatrizes, cruzam textos com contextos, mas são coisa honesta e rigorosa. Estes vestidos da caridade são um roteiro e um horizonte. Por adição de camadas e panos, vi coisas tornarem pessoas em muitas realidades paralelas. Poder, representação, metamorfose, identidades inventadas e, muitas vezes, oprimidas. Este livro é sobre roupa, ricos e pobres, atores de um tempo cuja memória em grande parte se perdeu. O pó dos livros e a existência de uma vida reduzida a um nome gravado num papel velho ensinam-me sobre a pequenez e insignificância. Da janela da cabine, uma biblioteca é tão-só um cemitério onde jazem linhas mortas.
Estes vestidos dedicam-se às forças vivas da minha vida, que são sempre substantivos femininos. Mulher é também a história, por mera definição de um artigo tornado lei universal. Caminho, menino, fitando a roda das suas saias. Vista de baixo, Clio é um céu cujas pregas perfeitamente drapeadas me fazem lembrar um acordeão ou a música da trama quando se deita ao lado da teia.
Luís Gonçalves Ferreira
Ps.: Os Vestidos de Caridade estão disponíveis aqui, ali ou acolá.
Luís Gonçalves Ferreira
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