A desumanização não tem que ver com a pandemia, mas com a modernidade doente na qual vivemos. Entre muitos outros aspetos, a modernidade pauta-se pela ausência de empatia para com o outro; transformados em tecnocratas, fazemos muito bem ações instrumentais - de cima para baixo, envolvendo todos os setores sociais e profissionais, colocamos e retiramos muito bem coisas e números de uns sítios para os outros. Falta o resto...
Urinar num corredor de um hospital* já não faz parte de uma distopia escrita nos anos 60 a 80 do século passado; urinar num corredor, em frente a todas as pessoas na total ausência da dignidade do SER, vive-se e vê-se no presente; no agora.
Aparentemente, vamos deixando de lutar pelas utopias que nos fazem gente. Gente é um conjunto de pessoas; uma família; o género humano. Pessoas são SERES que se tornam HUMANOS nas ações para com o mundo em seu redor.
Ser-se humano é tão pouco quanto isto?
Luís Gonçalves Ferreira
(*) Texto escrito a propósito de um vídeo que circula no Facebook no qual se vê uma idosa doente, orientada por uma auxiliar de ação médica, a urinar no chão do corredor do hospital de Santa Maria, em Lisboa. O vídeo foi filmado por outra paciente e, entretanto, apagado.
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